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Brasil, o Mato Grosso do Sul e o Produtor Rural
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Publicado em 23/05/2006A inegável importância do produtor rural para a economia brasileira está ganhando, dia-a-dia, uma dimensão cada vez maior diante dos reflexos que a crise no campo vem provocando. Nós, que trabalhamos no meio rural, somos os responsáveis pela alimentação do povo brasileiro e de milhões de famílias pelo mundo. Só este fato já seria o suficiente para que o setor fosse prioridade número um para qualquer governo e sobretudo para aqueles que se dizem voltados para acabar com a fome do brasileiro.
Felizmente esta conscientização já começa a ser regra na cabeça do cidadão brasileiro, resultado, com certeza, da visibilidade que ganhamos com nossas legítimas e pacíficas manifestações. No entanto, a administração pública brasileira vem sofrendo, ao longo dos últimos anos, de uma certa miopia política quando o assunto é agronegócio.
Em países desenvolvidos, onde o produtor rural é tecnificamente equipado, bem qualificado e capitalizado, os governos não cansam de oferecer incentivos e condições cada vez mais adequadas para o aumento da produção e da industrialização de alimentos. Por aqui – onde o produtor está descapitalizado, e sem crédito - é preciso implorar, gritar, colocar tratores nas ruas e protestar para que haja algum aceno por parte do poder público. E logo onde!! No Brasil, país de terras férteis, considerado um verdadeiro celeiro do mundo.
Qual é a outra vocação imediata, natural e saudável para a geração de recursos, empregos, distribuição de renda, qualidade de vida do cidadão e crescimento econômico deste país? O Brasil tem aptidão natural para o Agronegócio. Nos estados do Centro-Oeste brasileiro, principalmente no Mato Grosso do Sul, esta aptidão é ainda mais forte.
Fazer vista grossa ao agronegócio como o combustível da economia brasileira é correr riscos. E quando falamos regionalmente, esta dimensão é ainda maior Ou será que alguém tem alguma dúvida que a atual crise econômica anunciada pelo governo do Estado tem relação com o desestímulo, a insegurança e a carga fiscal sobre a cabeça do produtor rural? Ninguém deixou de trabalhar, mas jogar dinheiro fora tem limites para o cidadão.
Os números não mentem: dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, mostram que a balança comercial sul-mato-grossense registrou, entre janeiro e abril, déficit de US$ 237,7 milhões, resultado de US$ 272,3 milhões das exportações, e US$ 510 milhões das importações. Só de carne bovina foram deixados de exportar US$ 55 milhões nos primeiros quatro meses do ano. No mesmo período as vendas de carne suína caíram 70%. Enquanto isso, a previsão é de que a área plantada de soja tenha uma queda de 15% para a próxima safra.
Poderia enumerar uma série de outras complicações como o déficit de armazenamento de grãos e o sucateado sistema logístico do Mato Grosso do Sul mas considero até redundante diante de tantas evidências. Se alguém tem alguma dúvida sobre a legitimidade de nossas manifestações deveria experimentar, por exemplo, plantar alguns hectares de soja. Hoje, a conta não vai fechar e o prejuízo é certo.
Mas apesar de todos os pesares, sou um otimista. Sinto este otimismo quando vejo o brilho no olhar do produtor rural no seu prazer de trabalhar; sinto isso quando vejo a categoria se unindo para exigir o que lhe é de direito. E se o Mato Grosso do Sul e o Brasil precisarem também conquistar este grau de otimismo, estaremos prontos, como sempre estivemos. Só precisamos de condições para tal. Trabalho, competência e eficiência, já provamos que temos. O Brasil é rural. O Mato Grosso do Sul é rural. E o produtor tem orgulho de ser brasileiro.
(*) – É pecuarista, atual diretor-secretário da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul).
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