Publicado em 22/07/2020A melhora da percepção sobre o quadro político brasileiro contribui para manter o real na dianteira dos melhores desempenhos entre as moedas globais nesta quarta-feira. Mesmo diante de um ambiente externo mais desafiador, refletindo tensões renovadas entre Estados Unidos e China, a moeda americana manteve queda firme e furou o patamar de R$ 5,10.
Por volta das 13h30, o dólar operava em queda de 2,16%, a R$ 5,0971. Na mínima intradiária, tocou R$ 5,0906, o menor patamar desde os R$ 5,0484 registrados em 16 de junho.
Com isso, o real tem o melhor desempenho entre as 33 principais divisas do mundo pela segunda sessão consecutiva. Contra a rúpia indonésia, a segunda divisa de melhor desempenho da sessão, a queda era de 1,25%.
Para Jairo Rezende, gerente de Tesouraria do Bank of China, o fato novo continua sendo a mudança de postura do governo em relação ao Congresso na negociação das reformas, que voltaram à fazer parte da agenda legislativa. "Até me surpreende essa queda rápida, porque ficamos durante um bom tempo operando numa banda entre R$ 5,25 e R$ 5,40, sem conseguir furá-la", nota. "Mas não vejo outro motivo específico além dessa sinalização de negociação entre governo e Congresso."
O profissional lembra ainda que o real é uma das divisas que mais se desvalorizaram em relação ao dólar. "Na hora de fazer o caminho de volta, é até natural que seja tenha performance melhor que a dos pares", diz. No ano, a moeda americana acumula alta de 27,40% em relação ao real, contra 17,50% do peso mexicano e 15,16% da lira turca.
Recentemente, alguns gestores têm notado que, depois de muito tempo com performance abaixo da observada por outros ativos locais, o real poderia começar a recuperar esse terreno perdido em meio a um recuo da volatilidade, que foi a grande marca do mercado cambial nas últimas semanas, mas vem se reduzindo ultimamente.
Em live promovida pelo Valor mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a tratar do tema. O dirigente afirmou que as investigações promovidas pela instituição apontam para a influência de alguns elementos novos na negociação, como o uso de contratos menores de câmbio e fundos de negociação automatizada. Ainda assim, eles não conseguem responder inteiramente pelo problema identificado. Campos disse que as investigações ainda continuam, mas que a volatilidade de longo prazo já está em patamar mais normal e que "vai tender a cair" nas próximas semanas, sem entrar em detalhes.
Lá fora, após um início de sessão mais negativo refletindo os ativos de risco ensaiam uma recuperação. Os índices acionários em Nova York operam perto da estabilidade. Já o dólar caía 0,34% contra o peso mexicano, após apontar alta de 0,10% no início da manhã.
Mesmo com a recaída do sentimento de risco após os Estados Unidos exigirem o fechamento de um consulado chinês em Houston, o índice DXY da ICE, que compara o dólar com uma cesta de divisas desenvolvidas, permanece com viés de baixa, o que é outro fator positivo para a moeda brasileira. No horário citado, ele recuava 0,20%, aos 94,92 pontos.
"O Dollar Index está revertendo a tendência de longo prazo iniciada em início de 2018. Abaixo de 96,50 abre tendência de longo prazo de baixa", diz José Faria Junior, diretor da WIA Investimentos. "Com a alta das commodities, notadamente dos metais, do euro e das principais moedas de commodities, era previsível a valorização do real." Com informações do Valor.