Publicado em 20/05/2020As incertezas que atingem os mercados nacional e mundial estão sendo decisivas para o planejamento do confinamento de bovinos em Mato Grosso para 2020. A desconfiança começa a ganhar forma dentro da primeira estimativa realizada, em abril, pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e aponta para queda inicial de 16,45% no volume de animais que deverão deixar os pastos para serem terminados (engordados) em cochos, onde recebem alimentação suplementar.
Se os dados se confirmarem ao longo deste primeiro semestre, cerca de 577,55 mil bovinos serão confinados, o que revela perdas em quantidade de animais na comparação com abril de 2019. Ampliando a comparação, a retração na oferta pode se aproximar de 30%, em relação ao número efetivo de outubro do ano passado, quando o rebanho de bovinos confinados somou 824,22 cabeças.
O cenário percebido nesse primeiro levantamento é de bastante apreensão por parte dos pecuaristas para essa modalidade da atividade. Além da pandemia do novo coronavírus e dos rumos dos preços da arroba do boi gordo – preocupações que mais ameaçam a tomada de decisão do confinador – existem ainda ansiedade em relação aos valores dos insumos – especialmente do milho -, das cotações dos animais de reposição, que serão as cabeças a serem confinadas, e especialmente, sobre o apetite do mercado interno e externo. Os analistas destacam que se essas variantes de fato impactaram na decisão do confinador, a redução de um ano ao outro no rebanho, de 29,93%, será a maior desde 2013. “Se confirmado, teremos a maior variação de um ano para outro da intenção de não confinar”, alertam.
Além da menor intenção em confinar, a sondagem do Imea se deparou com um dado que pode mudar consolidação da modalidade este ano no Estado: do montante total de animais que serão confinados, há ainda um total de 251.799 bovinos para serem adquiridos pelos confinadores. Cerca da metade do rebanho estimado ainda não está nas mãos do pecuarista e por isso, mais sujeito às variantes do mercado, o que aumenta a chance da quantidade final de confinados ser ainda menor que o previsto nesse primeiro levantamento.
“Com isso, a maior parte da entrega de animais, até agora, está concentrada no primeiro semestre, movimento incomum historicamente. Porém, a volatilidade dos preços e os altos custos de produção estão pesando mais na balança. • Toda esta conjuntura, inclusive, deixou os produtores mais cautelosos e 31,71% dos entrevistados não irão confinar este ano e ainda 14,63% seguem sem previsão. Vale destacar que quatro propriedades que faziam parte do levantamento destruíram a estrutura de confinamento, o que, por sua vez, corroborou com a queda na capacidade estática do Estado”, informam os analistas.
Os analistas destacam ainda que por outro lado, esta instabilidade sobre o confinamento e o mercado em geral, incentivou mais produtores utilizarem proteção de preços e menos contratos a termo no mercado físico.
Na segunda semana de maio, mesmo com a arroba em relativa estabilidade, os preços no mercado de reposição não pararam de subir em Mato Grosso. “Diante disso, este cenário pode estar atrelado a menor oferta de animais, configurado pelo atual momento do ciclo pecuário. Assim, a relação de troca do produtor tem diminuído e desencorajado o confinamento em 2020, pois, além do maior custo com aquisição de animais, as cotações de milho estão em altos patamares e a pandemia tem desaquecido a demanda interna”, reiteram os analistas do Imea.
Apesar diferencial interno, as exportações seguem em bom ritmo e àqueles que possuem animais padrão ‘China e Europa’ ainda têm conseguido negócios bem acima da referência estadual.
Com a aproximação da seca, a oferta de gado tem aumentado, resultando em uma leve queda nas cotações do boi e da vaca gorda. As variações semanais foram -0,24% e -0,09%, respectivamente.
A pesquisa contou com a participação de 123 pessoas (dentre elas técnicos, gerentes e/ou proprietários), de uma base total do Imea de 173 unidades de confinamento, representando 71,10% da amostra. A maior parcela dos entrevistados (53,66%) afirmou que apresentam intenção de confinar em 2020. “Mais de 14% ainda não têm previsão de confinar e 31,7% não irão confinar. Mesmo que seja comum um maior receio no início do ano, este é o pior cenário desde 2013, pois de abril de 2019 para abril 2020 subiu 18,2 p.p., ou 1,3 vez a quantidade de produtores que não irão confinar”.Com informações do Diário de Cuiabá.