Publicado em 11/09/2009Editorial publicado no Jornal O Globo desta sexta-feira - 11/09/2009
Não é só do pré-sal que viverá a economia brasileira nos próximos anos. De vários outros setores, entre os quais o agronegócio, ainda se esperam importantes contribuições, tanto na produção de alimentos como na de biocombustíveis.
O agronegócio resistiu bravamente à crise financeira internacional, aproveitando oportunidades quando elas surgiram (o caso do açúcar, com a alta de preços ocorrida por causa da quebra de safra na Índia, ou da soja, cuja remuneração interna se manteve estável com a ajuda do câmbio). Dessa forma, apesar de todas as adversidades climáticas e de mercado, o setor produzirá este ano a segunda maior safra de grãos da nossa história.
Esse nível de produção é essencial para o recuo nos índices de inflação, favorecendo especialmente a população mais pobre, que poderia ter perdido poder aquisitivo com a crise. A inflação em queda também pavimentou o corte nas taxas básicas de juros, pelo Banco Central, para um patamar que ninguém poderia imaginar meses atrás.
Mesmo cumprindo papel tão fundamental para a economia brasileira, o agronegócio volta e meia se vê ameaçado, principalmente por movimentos políticos, como os que fazem demagogia sob a bandeira legítima da reforma agrária. A legislação em vigor permite a desapropriação, pelo governo, para efeito de redistribuição entre trabalhadores rurais, de propriedades improdutivas.
Com esse conceito, centenas de milhares de famílias foram reassentadas no Brasil nos últimos anos. No entanto, como o “estoque" de latifúndios improdutivos diminuiu sensivelmente, aumentaram as pressões para que se revejam os índices de produtividade que permitem determinar se a terra é passível de desapropriação ou não. Se é necessário que haja febre, que se mudem os números do termômetro.
Aliás, em nome da transparência, os índices de produtividade dos assentamentos do Incra também deveriam estar disponíveis.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, já se pronunciou contra essa revisão no momento, até porque isso poderia afetar agricultores que temporariamente diminuíram sua produção para se adaptar a flutuações de mercado, ainda mais na crise. O problema é que não está em discussão uma questão técnica, mas um pleito encaminhado pelo MST, com representantes infiltrados em aparelhos cedidos pelo governo na máquina pública. E as pressões se dão já num momento de excitação políticoeleitoral. O presidente Lula, noticiase, concordou com a revisão.
Desfechará um tiro no pé do país e do próprio governo, ao punir um dos setores mais dinâmicos da economia, devido a ranço ideológico.