Publicado em 02/02/2009Juan Lebrón Casamada*
Saber até que ponto a crise no sistema financeiro mundial produzirá efeitos que poderão prejudicar a produção agropecuária e, principalmente, como vai impactar a oferta de alimentos nos próximos anos é uma questão a sem resposta conclusiva. A alta do dólar e a realidade de uma crise que traz incertezas para todos os setores da produção agrícola são os maiores indicativo de que o mercado demandará algum tempo até se refazer por completo do susto.
Se, de um lado, a produção agrícola sofre com as oscilações e a desvalorização nos preços das commodities - fator mais importante de atração do capital estrangeiro -, com a escassez e a alta progressiva dos preços dos principais insumos usados pelo setor primário e a dúvida quanto à garantia de preço mínimo lá na frente, do outro, o governo federal se mobiliza para injetar recursos destinados à criação de linhas de financiamento, compra de equipamentos e custeio da produção.
Alguns setores, no entanto, inevitavelmente, sofrerão os reflexos dessa situação um pouco mais adiante. É o caso da pecuária de produção intensiva (confinamento), setor que tem seus resultados atrelados de maneira muito próxima ao equilíbrio das contas. Por esse motivo, a ordem, hoje, entre os confinadores é "esperar para ver" e "não pagar para ver" se as medidas adotadas para socorrer a economia terão de fato o efeito pretendidos.
O último levantamento realizado pela Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) com seus associados, relativo ao fim de novembro do ano passado, sobre a intenção de confinamento no país, mostrou, justamente, crescimento muito pequeno, apenas 1,3% maior em comparação a 2007, e projeções não muito otimistas com relação à continuidade dos investimentos neste ano.
Agora, em parte, os motivos que levam a essa desaceleração do ímpeto de produzir boi gordo têm pouca ou nenhuma relação com a falta de crédito no mundo. Pelo contrário, muitos dos gargalos que travam o sistema de produção são, na verdade, efeito colateral da fartura de capital disponível no mercado interno nos últimos anos e do súbito interesse do investidor estrangeiro nos dividendos gerados pelo agronegócio brasileiro.
O movimento de abertura de capitais na Bolsa e dos IPO (lançamento inicial de ações) depois de dois anos bastante positivos, praticamente, estagnou e especialistas calculam que haverá uma possível retomada somente no segundo semestre de 2009. O resultado desse crescimento desordenado que envolveu uma série de fusões, aquisições e a construção de novas plantas frigoríficas nas principais fronteiras agrícolas do Brasil, neste momento, é motivo de preocupação, já que o setor assiste ao movimento inverso, com frigoríficos importantes simplesmente fechando suas portas ou reduzindo sensivelmente as escalas de abate.
O cenário indica, ainda, déficit já comprovado na oferta de boi magro, pressão maior dos custos para compra de insumos do confinamento, incidindo na rentabilidade da produção além de pressionar por melhorias na qualidade dos processos do pasto ao prato do consumidor. Em resumo, tudo isso demandará ação estratégica e muito diálogo por parte dos agentes envolvidos na cadeia do negócio da carne. Esses ajustes são, de fato, necessários para que em 2009 toda a cadeia produtiva sobreviva a este momento agudo da crise e a produção possa ser retomada mais adiante com maior tranquilidade.
* Diretor executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon)